Nina Pandolfo, arte em grafite das ruas às galerias

Com seu traço onírico, ela transformou suas obras em objetos de desejo e se tornou uma estrela no aquecido mercado atual




Uma mente brilhante.



 
Um livro de Lewis Carrol com ilustrações de Luiz Zerbini, mangás de Junko Mizuno, um volume sobre pin-ups, outro sobre Hollywood Costume Dresses, um iPhone, canetas, tintas, pincéis, plantas, paredes manchadas de tinta e cristais Swarovski dividem o ateliê com Nina Pandolfo, paulistana de 33 anos que começou a grafitar nas ruas da metrópole em 1992 e está conquistando fiéis admiradores. Olhos grandes, fala mansa e gestos delicados são as características da artista refletidas em suas obras.
Em sua recente exposição “Desafiando Sonhos”, realizada na Galeria Leme, em São Paulo, as obras foram vendidas rapidamente para pessoas que se encantam pelo trabalho da artista, como a colecionadora Ana Carolina Reis. “Apaixonei-me pelas telas dela há um bom tempo, as meninas retratadas, o lado lúdico e cheio de detalhes do trabalho. Pirei com essa última exposição em que ela foi mais para a pintura do que para o grafite. A Nina já tinha um diferencial, uma doçura, um detalhismo que ficou mais evidente. Acho que isso refinou o trabalho dela e o valorizou ainda mais.”
Nina é um nome importante da atual cena da arte contemporânea brasileira, um mercado que está muito aquecido. Seus trabalhos são procurados por colecionadores neófitos e veteranos interessados em novidades. “O trabalho dela valorizou mais de 100% nos últimos anos em função do aumento da demanda. A ponto das duas últimas exposições (com cerca de 10 obras cada) terem sido abertas totalmente vendidas”, afirma o galerista Eduardo Leme.

Para o crítico de arte Tiago Mesquita, “muita gente nova tem vendido muito e com mais frequência. Esse entusiasmo em relação à arte contemporânea é paralelo à prosperidade atual. O caminho das fortunas acompanha o investimento em obras”. Para Mesquita, “a novidade é que gente que nunca comprou está começando a comprar”.
A maturidade adquirida ao longo dos últimos dez anos transportou as personagens de Nina, antes espalhadas por paredes e muros ao longo da cidade de São Paulo, para galerias, museus e até um castelo. Uma das poucas mulheres presentes na cena "street-art" contemporânea, ela se destaca em seu gosto pela experimentação, a busca de novas mídias e meios para expressar sua arte.

Foto: Guilherme Lara Campos - Fotoarena
Nina Pandolfo em seu ateliê
iG Luxo visitou o ateliê da artista, uma aconchegante casinha em frente a um parque paulistano, em uma tarde chuvosa. A conversa, você acompanha agora. 
 
iG: Você se considera artista plástica, grafiteira?
Nina Pandolfo: Colocam um rótulo para o que eu faço, mas eu mesma não me prendo a nada. Artista de grafite, artista plástica, arteira (risos)... Eu não me rotulo.
iG: O que você lembra como sendo o início de seu desejo em trabalhar com arte?
Nina: Minha mãe sempre fez muito artesanato e me levava para ver balé, teatro. Eu já pintava quadros, panos, tudo o que pudesse. Sabia que queria trabalhar com desenho, não sabia o quê exatamente, mas sentia que era um dom que eu tinha. Pensava em fazer um curso técnico, porque te dá uma profissão. Eu era muito adolescente e não conseguia projetar algo para o futuro. Minha mãe me incentivou sempre a optar por aquilo que eu faria com amor. Ela sempre disse que a minha recompensa seria meu prazer, minha satisfação pessoal, sem me preocupar com o lado financeiro. Ouvir aquilo foi maravilhoso. Nessa época, eu passei a fazer teatro de rua porque queria levar a arte até as pessoas, aí comecei a ver pinturas nos muros. Conhecia muito pouco desse mundo. Passei a buscar mais informações e me interessei. Somente aos 24 anos comecei a viver de arte. Nunca pensei em ver meu nome na mídia por causa do meu trabalho.
iG: De onde vêm esses personagens de sonho que povoam suas obras?
Nina: Eu coloco naquilo que pinto o que eu gosto. Algumas coisas vêm desde pequena. Meu pai era técnico em eletrônica, tinha um monte de ferramentas e pecinhas, aquilo me fascinava visualmente e eu criava um mundo de brincadeira e viajava. Também levava minhas bonecas para brincar no jardim, achava que era uma delas, que podia falar com os bichos e viver numa floresta, ou montar no gato e sair por aí... Adoro gato. Isso eu trago até hoje. Eu acho que tenho olhos grandes e projeto isso no meu trabalho. Esse universo feminino vem de mim, de um lado meu que é assim. Mas ao mesmo tempo também tenho um lado masculino, que trabalha na rua, que tem de lidar com gente de todo tipo. Mas sempre na boa, acho que tudo se resolve com uma conversa.
iG: Como você e Otávio se conheceram (Nina é casada com Otávio Pandolfo, da dupla conhecida como OSGEMEOS)? Há muita interação entre o seu trabalho e o do seu marido, como na pintura da fachada do Castelo de Kelburn, na Escócia, em 2007, onde você trabalhou com os gêmeos e o grafiteiro Nunca?
Nina: Em 1992, fui fazer um workshop no colégio para aprender a aplicar uma técnica e conheci o Otávio. Começamos a namorar depois, com o tempo. Havia um grupo de amigos dos meninos, gente que grafitava e se conhecia há um tempão. Eles já estavam inseridos e me incentivaram muito: “vai fundo”, “vai, pinta”, mas tudo sem forçar. Meus professores foram OSGEMEOS. Não falo isso porque o Otávio é meu marido, mas porque eles me incentivaram a achar o meu caminho, me deram muitas dicas e me respeitaram. O Otávio é um grande incentivador. É muito legal ser casada com ele, mas cada um tem seu caminho. Inevitavelmente somos convidados para fazer coisas juntos. Mas muitas vezes as pessoas nem sabem que somos casados e acho isso legal, pois nos conhecem por causa do trabalho.
iG: Como é expor em lugares tão diversos como Los Angeles, Nova York, Miami, Índia e São Paulo?
Nina: Eu nunca imaginei ir para fora. Quando vou e as pessoas se reúnem em torno do trabalho e acham uma maravilha, eu ainda me surpreendo. Mas já é mais normal pra mim, hoje em dia (risos). Em 2002 eu comecei a participar de exposições coletivas e em 2008 a Galeria Leme passou a me representar. Alguns convites chegam direto a mim, outros surgem através da galeria. E São Paulo é onde tudo começou, tem coisas minhas espalhadas pela cidade, no Cambuci, na radial Leste, na praça Roosevelt.
iG: Há uma crescente valorização do seu trabalho. A que você atribui isso?
Nina: Eu sou meio sem noção... (risos). Não sei onde vou chegar amanhã. Mas sei que meu trabalho causa alegria e prazer. Pelo menos é o que as pessoas dizem. Eu me pego pensando: ‘que loucura, isso!’ Fico feliz. Feliz em ver que gostam do que faço. Mas trabalho com aquilo que gosto e o que acontece é consequência, não é planejado.
iG: Telas, instalações, mídias mistas, a arte está presente de diversas formas na sua trajetória. O que podemos esperar de você no futuro?
Nina: Eu acho que posso dizer que percorri esse caminho do grafite na rua. Recentemente saí com um amigo que estava começando e pensei: eu já fiz isso. A rua me ajudou muito, foi o que tornou meu trabalho conhecido. Agora, com o trabalho em galerias tem uma coisa mais pessoal, onde eu posso criar um todo. Nessa de Los Angeles (Life´s Flavour, Carmichael Gallery of Contemporary Art, 2010), eu imaginei um ambiente e criei peças que “conversam entre si”. Em uma tela, por exemplo, havia duas meninas de costas, na tela seguinte elas apareciam de lado. É uma caminhada em que você vai vendo a expansão de uma imagem para outra tela. Eu fiz quadros bi e tridimensionais, trabalhei com pimenta e doce, todas as telas têm isso de alguma maneira. Usei flores artificiais, ferro, cristais Swarovski, jujubas, pirulitos. Faço meu futuro hoje. Não consigo planejar. A vida acontece. Agora, por exemplo, eu quero explorar vidro e ferro.

iG: O que é luxo para você?
Nina: Poder trabalhar naquilo que tenho prazer em fazer. Eu me sinto abençoada.

FONTE EXTRAIDA DO IG.

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